Alice: Salamandra, 2010

Escrito por: | em 09/05/2010 | Adicionar Comentário |

Finalmente consegui arranjar um tempo para fotografar e escrever sobre uma das minhas ultimas aquisições bibliográficas. Todo mundo sabe que eu fã dos clássicos do Lewis Carrol e que adoro edições ilustradas de livros, então fiquei muito ansiosa e não pude me conter quando soube do Box lançado pela editora Moderna sob o selo Salamandra.

Dados da Edição:

Título: Alice no país das maravilhas e Alice através do espelho.
Autor: Lewis Carrol
Tradução:
….. Maria Luiza Newlands Silveira (Alice no país das maravilhas)
….. Marcos Maffei (Alice Através do Espelho)
Ilustrações: Helen Oxenbury
Edição: São Paulo: Moderna, 2010
Impresso na China
ISBN:
….. 978-85-16-06486-0 (Alice no país das maravilhas)
….. 978-85-16-06487-7 (Alice Através do Espelho)

Box e Capa dos Livros "Alice no país das Maravilhas" e "Alice através do Espelho"

Descrição:

O pacote todo é simplesmente deslumbrante e eu, que estava meio na dúvida sobre se devia comprar essa edição por causa do preço, fiquei absolutamente satisfeita com a minha aquisição. Os livros vem numa caixa super bem acabada de papelão rígido, ilustrada e colorida que deixou a caixinha da minha edição especial da Cosac Naify no chinelo. Aliás, diferente do que eu tinha dito naquela edição, nesse caso acho que caixa vale cada centavo que possa ter acrescentado no preço dos livros.

Primeira Página do "Alice no País das Maravilhas" da Salamandra

Os dois livros são igualmente lindos, e no momento em que você abre a primeira página já da para ver que vem coisa boa por ai. Eu gostei da forma como ambos os livros seguiram o mesmo padrão. Por exemplo: a primeira página do “País das Maravilhas” tem uma ilustração de página inteira, com o coelho branco correndo nula iluminação típica do verão (que é quando se passa a história) enquanto o “Através do Espelho” tem uma ilustração no mesmo estilo, mas mostrando as arvores cobertas com a neve do inverno (que é o momento do livro); Também a forma de ilustrar os poemas “Você está velho, Pai William” e “A Morsa e o Carpinteiro” são semelhantes em ambos os livros. Ah… o vestido da Alice também parece ser o mesmo, embora esteja acompanhado de uma camisa de mangas longas e meia calça no através do espelho.

Indice do Livro "Através do Espelho" da Salamandra

Outro padrão que é seguido nos dois livros é o do índice (trabalho inclusive facilitado pelo fato de o autor ter feito exatamente o mesmo número de capítulos para ambos os livros).  Então cada capítulo é representado por uma imagem que corresponde a um elemento característico daquele título. Uma pena que no “País das Maravilhas” não tenham colocado cartinhas de baralho na parte inferior da página, para combinar com as peças de xadrez colocadas no “Através do Espelho”.

Imagem de página dupla do "Alice através do Espelho" da Salamandra

Nem preciso dizer que ambos os livros estão recheados de ilustrações do começo ao fim. Algumas de página única, algumas de página dupla, algumas misturadas com o texto e a grande maioria é colorida. As ilustrações são absolutamente distintas das originais do Tenniel, mas são lindas! Também são bem diferentes da arte da edição da Cosac Naify, embora eu não ache nem piores nem melhores. Diria que a principal diferença das imagens dessa edição é que elas são mais infantis, mas acho que isso tem muito a ver com o público alvo da edição.

Interior do livro "Alice Através do Espelho" da Salamandra

Aliás, falando em a edição ser voltada para o público mais infantil, essa é uma boa justificativa para o tamanho e espaçamento da fonte do texto, se bobear da até para a minha mãe ler sem óculos. No geral esse é um ponto positivo, porque torna a leitura muito mais confortável e estimula o leitor (podem prestar atenção como, ao pegar um texto em letras pequenas, pouco espaçadas e com poucos paragráfos, só de olhar já da preguiça de ler). Embora nesse caso em especial isso não me cause nenhum incomodo, poderia dizer que o lado negativo é que adiciona páginas ao livro, e mais páginas significam um livro mais pesado e um estorvo maior, mas como eu não pretendo levar essa edição para passear na rua, não vejo problema algum, aliás, mais páginas também significa mais ilustrações.

Interior do "Alice no País das Maravilhas" da Salamandra

Sobre o acabamento, tenho que mencionar dois defeitos, um pequeno e um grande. O pequeno defeito é o fato de a capa dos livros ser mole, já que os livros vão ser espaçosos mesmo, acho que colocar uma capa dura (ainda que acrescentasse algum valor ao preço) daria a eles um toque especial. O defeito maior é o mesmo que eu reclamo o tempo todo: páginas brancas e brilhantes que tornam a leitura bastante cansativa para os olhos. Imagino que o papel das páginas seja assim para permitir a qualidade da impressão das imagens, mas ainda acho que as editoras precisam pensar nisso, páginas amarelas devem acrescentar no mínimo uma hora a mais de leitura confortável.

Vale dizer, ainda nesse tópico, que os livros têm a altura mais ou menos padrão dos livros médios 23,5cm, mas são um pouquinho mais largos 19,5cm e têm mais ou menos 2cm de espessura cada um. Outro detalhe: a encadernação é boa o suficiente para abrir os livros em 180 graus de forma confortável, sempre precisar ficar forçando as páginas.

Interior do "Alice no País das Maravilhas" da Salamandra

Tradução:

Uma coisa curiosa, que eu só notei quando comecei a escrever esse post, é que cada um dos livros do box é traduzido por uma pessoa diferente, fiquei me perguntando o porquê, mas não consegui pensar numa resposta. De qualquer maneira, não cheguei ainda a ler os livros para medir a qualidade das traduções, mas pelo menos conferi (para comparar a com a tradução da Cosac Naify) que mantiveram o nome do gato como “Gato de Cheshire” e do croquet como “croquê”. No geral, achei a tradução parecida com a da Maria Luiza X. de A. Borges (que é a das edições da Zahar) e suficientemente fiel ao original.

Página de Título do "Alice através do Espelho" da Salamandra

Para vocês terem uma idéia, vou colocar aqui o mesmo trecho do “País das Maravilhas” dessa versão que eu copiei no post sobre a edição da Cosac Naify (vejam as comparações dessa tradução lá) e um trecho do original e dessa tradução do “Através do Espelho”.

“Alice estava ficando cansada de estar ao lado da irmã sentada no barranco sem ter nada para fazer: uma ou duas vezes, dera uma espiadela no livro que a outra lia, mas ele não tinha figuras nem conversas, ‘e para que serve um livro sem figuras nem conversas’ , pensava ela. Por isso, estava ponderando consigo mesma (o quanto podia, porque o calor a fazia se sentir um bocado sonolenta e burra) se o prazer de fazer uma guirlanda de margaridas compensaria o esforç de se levantar para colher as flores. Foi quando, de repente, um Coelho Branco de olhos cor-de-rosa passou correndo pertinho dela. Não havia nada de tão fora do comum o Coelho dizer para si próprio ‘Ai, meu Deus! Ai, meu Deus! Vou chegar atrasado’ (quando refletiu sobre isso mais tarde, achou que deveria ter-se espantado, porém, na hora, tudo pareceu natural; mas quando o (…)”

(Alice no país das maravilhas. Tradução: Maria Luiza Newlands Silveira. Moderna, 2010)

“This time she came upon a large flower-bed, with a border of daisies, and a willow-tree growing in the middle. ‘Oh Tiger-lily!’ said Alice, addresing herself to one that was waving gracefully about in the wind, ‘I wish you could talk’. ‘We can talk,’ said the Tiger-lily, ‘when there’s anybody worth talking to’. Alice was so astonishe that she could not speak for a minute: it quite seemed to take her breath away. At lenght, as the Tiger-lily only went on waving about, she spoke again, in a timed voice – almost in a whisper. ‘And can all the flowers talk?’. ‘As well as you can,’ said the Tiger-lily. ‘And a great deal louder’. ‘It isn’t manners for us to begin you know,’ said the Rose, ‘and I really was wondering when you’d speak! Said I to myself, ‘her face got some sense in it, though is not a clever one!’ Still, your’re the right color, and that goes a long way’ (…)”

(The Complete Illustrated Works of Lewis Carroll: Through the looking glass. London: Bounty Books, 2004)

“Dessa vez topou com um grande canteiro, orlado de margaridas, e um salgueiro crescendo no meio. ‘Ó Lirio-tigre!’ chamou Alice, dirigindo-se a um que ondulava graciosamente ao vento, ‘gostaria tanto que pudesse falar!’. ‘Pois podemos‘, falou o Lirio-tigre, ‘quando há alguém com quem valha a pena conversar’. Alice ficou tão espantada que perdeu a voz por um minuto; quase pôs o coração pela boca. Por fim, como o Lirio-tigre apenas continuava a balançar, falou de novo, numa voz tímida… quase um sussuro: ‘E todas as flores podem falar?’. ‘Tão bem quanto você‘, respondeu o Lirio-tigre. ‘E bem mais alto’. ‘Seria pouco delicado da nossa parte começar, sabe’ disse a Rosa, ‘e eu realmente estava me perguntando quando você falaria! Disse comigo ‘O semblante dela me diz alguma coisa, embora não seja uma coisa inteligente!’ Apesar de tudo, você tem a cor certa, e isso já é meio caminho andado’ (…)”

(Alice: edição comentada. Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002)

“Dessa vez ela foi dar num grande canteiro de flores, com a borda cheia de margaridas e um salgueiro no meio. – Ó, Lírio-tigre, – disse Alice, dirigindo-se a uma flor que se ondulava graciosamente ao vento – Gostaria tanto que você pudesse falar. – Nós podemos falar, disse o Lírio-tigre 0 quando há alguém com que valha a pena conversar. Alice ficou tão espantada que não conseguiu dizer nada por um minuto: parecia até ter ficado sem fôlego. Por fim, como o Lírio-tigre apenas continuava a se ondular ao vento, ela falou de novo, numa voz tímida, quase um sussurro. – E todas as flores podem falar? – Igual a você – disse o Lírio-tigre. – E bem mais alto. – Não seria educado de nossa parte começar, sabe – dosse a Rosa -, e eu estava me perguntando quando você ia falar alguma coisa! Disse a mim mesma: ‘o rosto dela faz algum sentido, embora não seja um muito sensato!’ Ainda assim, você é da cor certa, e isso já é alguma coisa. (…)”

(Alice Através do Espelho. Tradução: Marcos Maffei. Moderna, 2010)

Ainda pretendo fazer um post especial só para falar de questões de tradução dos livros “Alice” do Lewis Carroll, por isso nem vou começar a falar das diferenças da tradução do Jabberwocky, que é de longe, na minha opinião, a parte mais desafiadora de se traduzir o “Através do Espelho”.

Avaliação:

Considerando que eu atribui 4 grifos para a edição da Cosac Naify (que tinha só o “País das Maravilhas”) eu atribuiria 5 para essa edição sem problemas. Mas não acho justo, considerando que eu apontei pelo menos dois defeitos no livro (a fata de capa dura e as páginas brancas) e a nota máxima deveria ficar reservada para uma edição perfeita, então vou dar 4 grifos com louvor.

Clique aqui para ver a página da editora sobre o livro.

Conclusão e Comparação com outras edições:

Eu amei o box, e só posso concluir que qualquer maniaco por livros, fã de livros ilustrados e amante de Alice vá amar também. Mas devo confessar que o preço do livro não é um grande incentivo para quem está comprando a sua primeira edição das histórias.

Só para constar, atualmente (maio, 2010) a edição da salamandra está custando algo em torno de R$85,00 nas lojas virtuais. Para vocês terem uma idéia da comparação de custo benefício, resolvi listar aqui algumas outras edições interessantes:

# Alice: Edição Comentada, da Zahar:
Eu já falei um milhão de vezes e não me canso de repetir, em termos de conteúdo, nenhuma edição supera essa. Os comentários são MUITO bons, explicam muita coisa e fazem você ver as obras do Carroll com outros olhos. Eu não aconselharia ninguém que goste da história a comprar uma segunda edição do livro antes de ter essa. Acho que para essa edição ser a mais perfeita do universo só faltou uma capa dura e que as ilustrações do Tenniel fossem coloridas, mas mesmo sem essas coisas é sem dúvida a minha eterna favorita. O preço atualmente, está em torno de R$80,00 mas vale muito a pena.

# Alice no país das Maravilhas, da Cosac Naify:
Eu fiz um post inteiro para comentar a edição especial (que é igual à comum, exceto pela capa, qualidade do papel e a caixa), então não vou ficar falando aqui sobre os benefícios, mas comparado com a edição da Salamandra, eu diria que a edição da Cosac Naify talvez seja mais voltada para o público adulto (até pelas ilustrações), mas que perde num ponto muito importante: possuí apenas um dos livros e não a dupla. O preço da edição simples, atualmente, está em torno de R$35,00 . A edição especial, que está esgotada na maior parte dos lugares custava mais ou menos o dobro (R$70,00). Nesse ponto preciso acrescentar: não acho que a edição especial valha a pena, não há tanta diferença para justificar o preço e por um pouco mais de dinheiro você consegue comprar uma das edições que eu mencionei, que têm as duas histórias.

# Alice: Edição de Bolso, da Zahar:
Esta é uma edição que saiu recentemente, provavelmente procurando ganhar um pouco de público com o estouro do filme do Tim Burton, mas que eu achei absolutamente perfeita, tanto para quem está comprando Alice pela primeira vez e não tem certeza se vale a pena gastar muito com o livro, quanto para quem, como eu, precisava de uma edição menor para carregar por ai. O preço está em cerca de R$20,00 (em algumas lojas, com desconto, chega a R$15,00) que é o preço que que você pagaria para comprar as duas edições de bolso da Martin Claret (que é uma das linhas de livros mais acessiveis), só que num livro de capa dura, com páginas em cor creme (ótimo para ler) e uma das melhores traduções das estórias (na minha opinião).

# Complete Illustrated Works of Lewis Carroll, da Bounty Books:
Essa é minha dica para quem quer um livro no idioma original. Tenho certeza que dá para encontrar dezenas de versões dos livros do Carroll em inglês por ai, mas em termos de custo benefício eu acho essa uma muito boa porque tem, além das duas obras com as ilustrações e o texto originais, todas as outras publicações do Carroll, também ilustradas. O livro tem capa dura e páginas em cor creme, mas vale o aviso: o livro é BEM grosso (6cm de espessura mais ou menos) e as páginas são um pouco mais finas que o normal. O preço médio atual é R$26,00 (mas na FNAC está saindo por R$13,90) em ambos os casos acho que vale bastante a pena.

Existem, óbvio, outras edições (como as da Martin Claret que eu citei entre muitas outras opções), mas estas são as que eu tenho. Uma recomendação para as pessoas que forem comprar é observar a questão da integralidade do texto.

Muitas obras são adaptações do livro original e não possuem o texto integral, não que isso seja necessariamente um defeito, dependendo da proposta da obra, mas tomem cuidado para não comprar gato por lebre. As obras que eu indiquei aqui têm todas o texto completo.

Fica ai então a minha dica, para os fãns e curiosos sobre Alice.



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Dani Toste

Advogada, jogadora de RPG, viciada em internet, amante de de livros, séries, música e filmes. Acha que o Lewis Carrol é um gênio, é obcecada pelos livros da Alice que considera os melhores do mundo.

4 Comentários sobre Alice: Salamandra, 2010

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