Saindo da série “ultimas estréias do cinema” resolvi continuar o “Outras Mídias” com um uma duplinha (filme e livro) que eu considero maravilhosamente clássica: A História Sem Fim.
OBRA ORIGINAL | OBRA DERIVADA | |
---|---|---|
Capa |
|
![]() |
Título | “A História Sem Fim” |
“A História sem Fim” |
Autor ou Diretor | Michael Ende |
Wolfgang Petersen |
Editora ou Estúdio | N/A |
Warner Bros. Pictures |
Tipo | Livro | Filme |
—
Acho que há grandes chances de que este outras mídias fosse mais útil ao contrário (falando do livro e não da adaptação) considerando que a maioria das pessoas deve conhecer o filme e pouquíssimas devem ter lido a obra original.
Ainda assim, vou começar explicando: foram feitos três filmes baseados no livro “História sem fim” (que eu saiba), mas eu prefiro continuar a minha vida fingindo que o segundo e o terceiro nunca existiram, de forma que vou me ater a falar do primeiro filme, que merece muita atenção.
Um aviso: essa definitivamente não será uma review imparcial, sob o risco de começar de trás para frente vou adverti-los: esse é o meu filme favorito de todos os tempos, é o TOP 1 da minha lista de filmes queridos, é a cereja do meu bolo.
Mas, embora isso tudo faça com que minhas opiniões não sejam neutras, não acho que elas sejam menos válidas. Se o filme é o meu favorito é porque conquistou e conseguiu manter esse lugar desde a minha infância, e isso deve valer alguns pontinhos.
Bom, a primeira comparação importante de fazer é a da extensão: o filme se limita à primeira parte do livro. Teoricamente o segundo filme deveria ser a segunda parte, mas como eu disse, prefiro pensar que ela nunca foi feita. Acho que no geral essa foi uma boa escolha porque realmente é possível traçar uma linha divisória bem clara no seguimento do livro: Antes e depois do Bastian ir para Fantasia.
O filme se atém à história do livro, mas não é exatamente fiel. Não sei muito bem se eu teria gostado do filme caso tivesse lido primeiro a obra original, mas da forma que foi eu fiquei com a impressão de o filme ser uma espécie de versão resumida. De certa forma, fico agradecida por não ter assistido o filme com uma cabeça cheia de conceitos formados, porque poderia ter perdido toda a magia que ele traz.
Mas, antes de falar da magia, vale um aviso: o filme é velho. Assistir o filme hoje significa saber olhar através dos efeitos especiais completamente ultrapassados e significa mais ainda saber perceber a história e prestar atenção nos diálogos e nas mensagens. Se hoje temos uma série de filmes lindos o ocos, história sem fim tem uma casca meio velha, mas um conteúdo que vale a pena.
A magia do filme, para mim, está nos personagens (não só o Bastian e o Atreyo, mas o Falcor, o Artax, a Imperatriz Menina, o elfo noturno, o come-pedras), é a forma como somos levados a nos importar com todos eles, por menor que seja a sua parte na história. Não da para dizer que esse é um filme baseado em personagens (como o Alice por exemplo), porque ele tem uma mensagem fantástica na trama, mas são os personagens que tornam a mensagem válida.
Dentre as cenas do filme que valem a pena destacar não posso deixar de falar da parte do Artax no pântano, que é uma das cenas mais comoventes de todos os filmes que eu consigo me lembrar, o tipo de coisa que me da vontade de chorar só de pensar. Embora o Artax do livro fale e o da filme não, em ambas as mídias o trecho passa a mesma mensagem. Como acho que muita gente não leu o livro, vou deixar um trecho dessa parte aqui, para vocês terem uma idéia (ALERTA PARA SPOILER, se não conhece e não quer conhecer a história, pule a citação abaixo):
— Você nunca me falou assim, Artax, disse Atreiú assombrado. Que é que você tem? Está doente?
— É possível, replicou Artax. A cada passo que damos, minha tristeza é maior. Perdi a esperança, senhor. E sinto-me cansado, muito cansado. . . Acho que não sou mais capaz de andar.
— Mas temos de prosseguir!, exclamou Atreiú. Vamos, Artax! Puxou-o pelas rédeas, mas Artax ficou parado. Já estava atolado até a barriga, e não fazia qualquer esforço para se libertar.
— Artax!, gritou Atreiú. Você não pode desistir agora! Ande! Ande para a frente, se não vai ficar atolado!
— Deixe-me, senhor!, respondeu o cavalinho. Não consigo. Vá sozinho! Não se importe comigo! Não posso mais suportar esta tristeza. Quero morrer.
Atreiú puxou-o desesperadamente pelas rédeas, mas o cavalinho afundava-se cada vez mais. Não podia fazer nada para impedi-lo. Finalmente, quando o animal tinha só a cabeça fora da água negra, abraçou-o pelo pescoço.
— Eu seguro você, Artax, murmurou ele. Não vou deixar você afundar.
O cavalinho relinchou outra vez, suavemente.
— Você não pode fazer mais nada por mim, senhor. Está tudo acabado. Nenhum de nós sabia o que nos esperava aqui. Mas já sabemos porque o Pântano da Tristeza tem este nome. É a tristeza que me torna tão pesado e que me faz afundar. Não é possível evitá-lo.
(Trecho do livro: A História Sem Fim, de Michael Ende)
Uma coisa que muda bastante na adaptação é a forma como Atreyo conhece Falcor (O Dragão da Sorte). No livro a relação deles faz um pouco mais de sentido, porque o Atreyo de certa forma salva a vida do dragão, que estava preso na teia do Ygramul (personagem que é omitido no filme), e acaba ganhando a lealdade dele. Há outras partes mais ou menos diferentes, mas no geral seguindo o mesmo fluxo do livro.
Acho que se eu tivesse que escolher uma coisa nesse filme que o torna insuperável, diria que é o dialogo entre o Atreyo e o Gmork, quase no final. Embora o diálogo seja bem resumido em relação ao livro, omitindo várias explicações da relação entra Fantasia e o mundo dos homens, conseguiu manter o mesmo sentido de importância e passar, para mim, a melhor mensagem de todas: da importância dos sonhos e da esperança. Como eu acho que é um trecho que vale muito a pena, vou transcrevê-lo abaixo para vocês, do filme :
– Fantasia não tem limites.
– Não é verdade! Você está mentindo!
– Garoto bobo. Você não sabe nada sobre Fantasia? É o mundo da fantasia humana. Cada parte, cada criatura é um pedaço dos sonhos e das esperanças da humanidade. Portanto, não tem limites.
– Por que Fantasia está morrendo?
– Porque as pessoas começaram a perder as esperanças e esquecer os sonhos. Assim, o Nada se fortalece.
– O que é o Nada?
– É o vazio que resta. É como um desespero que destrói esse mundo. E tenho tentado ajudar.
– Mas por quê?
– Porque pessoas sem esperança são fáceis de controlar.
(Trecho do filme História sem Fim)
Não vou colocar o trecho correspondente do livro para não enchê-los de citações, mas fica minha dica: vale muito a pena ler e refletir a respeito.
Conclusão:
Se você leu o livro e não viu o filme (de que planeta você é?) eu recomendo MUITO assistir (a menos que você já não tenha gostado da obra original), mas com a mente limpa, sem ficar se preocupando porque o Atreyo do filme não é verde.
Se você viu o filme, gostou, e não leu o livro: pare tudo o que está fazendo e vá ler o livro, tenho certeza que vai gostar, ao menos da primeira parte.
Se você não conhece nenhuma das mídias: recomendo começar pelo filme e ler o livro depois. São histórias de fantasia, mas não tem nada a ver com Senhor dos Anéis e outros livros de fantasia medieval, para mim esse livro esta mais próximo de Peter Pan e Alice, porque fala de um “mundo de sonhos” e das coisas belas e estranhas que habitam tal local, mas para além da magia, mas acho que ele tem mais coisas para refletir também, porque fala da relação dos sonhos com o nosso próprio mundo.
Avaliação:
A essa altura acho que vocês já devem ter adivinhado: 5 grifos com mega, ultra, hiper estrelinhas de louvor. Para mim é um filme inesquecível e não é sem razão que conseguiu ser o meu favorito até hoje, superando outros muito mais modernos e me fazendo gostar mais e mais a cada vez que eu assisto.
Tags: Atreyo, Fantasia, História sem fim, Infanto-juvenil, Michael Ende, Neverending Story, Outras Mídias
Pingback: Tweets that mention Grifo Nosso » Outras Mídias: A História Sem Fim -- Topsy.com