Palavra Jagunça – O Livro dos Sonhos: histórias no mundo de Sandman

Escrito por: | em 17/05/2010 | Adicionar Comentário |

Um salve akatanado para os ouvintes e leitores aqui do Grifo Nosso. Quem vos escreve é Mário HB, vulgo Jagunço, intruso-pitaqueiro de terras blogueiras vizinhas. Sou, para o desespero geral, o mais novo colaborador aqui deste espaço metaliterário. Segure o choro e aguente firme! Sofre mais quem pensa muito! :)

A proposta é bem simples… Inauguro hoje uma coluna grifeira, cá por estas bandas. Ela tem como plano trazer sugestões de leitura rápida e publicar alguns pensamentos igualmente galopantes sobre o tema central do blog: livros e literatura. De peridiocidade quinzenal, a dita cuja é tão bandida que pode aparecer de susto, vez ou outra (até que alguém por aqui me demita…).

Leia, rosne e me diga o que acha dos achados.

A mágica das coletâneas de contos

Pensando em produzir algo que preste aqui pra vocês, cheguei a uma conclusão prévia: por que não falar um pouco sobre os tais “materiais de leitura rápida”? Pequenos livros, textos curtos, sites divertidos, graphic novels e… contos?

A maior vantagem desse tipo de leitura é o fato dela agregar um prazer raro: a deslealdade leitora. E o conto, penso, é o mestre dessa máfia. Um gênero de escrita que tem como público tanto aqueles sem muito tempo disponível como também as inúmeras criaturas que, como eu, não tem lá muita paciência para romances em determinado momento do mês. Ainda que você não se inclua em nenhuma dessas categorias o conto ainda oferece uma última sedução: você pode lê-lo rapidinho, entre capítulos de um livro-chefe ou entre uma hora ou outra de desventura!

(Ainda cabe mais uma defesa: o conto permite ao leitor variar o tema ou o estilo do que lê, alimentando uma mania muito moderna e contemporânea que podemos chamar aqui de “quero-um-pouco-mais-de-outra-coisa-por-favor”!)

Sonhos e contações

A coletânea que decidi sugerir para começo de conversa é uma prova interessante disso tudo. Publicado aqui no Brasil em 2001 (1ªedição) Sandman: O Livro dos Sonhos (dois volumes) é uma curiosa aventura no mundo do personagem título, criação do escritor britânico Neil Gaiman. Para quem não sabe (dados os passeios em Marte), Sandman conta a história da encarnação do próprio Sonho, uma espécie de entidade que rege tudo aquilo que acontece nos devaneios humanos. Ele tem seis irmãos, cada um representando um aspecto diferente do universo: Destino, Delírio, Destruição, Desejo, Desespero e Morte (todos começam com D, na língua do Bush, claro). Juntos eles formam uma família de criaturas eternas conhecidas como Os Perpértuos. As histórias foram tema de HQs publicadas entre 1988 e 1996, com edições compiladas recentemente (o material, aqui no Brasil, é publicado pela Conrad).

É no universo de intrigas, disputas e dramas que ocorrem entre esses personagens e uma porção de figuras bastante humanas que os contos se desenrolam. E aí começa a parte interessante: eles são escritos não por Gaiman, mas por várias figuras do mundo literário anglo-saxão (entre eles Collin Greenland, Barbara Hambly e Robert Rodi). Em outras palavras, a coletânea inclui uma diversidade de trabalhos de escritores que aceitaram o desafio de narrar histórias curtas dão enfoque a um – ou mais de um – dentre os Perpértuos. O resultado não poderia ser mais divertido.

Uma foto quase profissional das capas...Cada conto tem um pequeno comentário inicial do próprio Gaiman (organizador da obra junto com Ed Kramer), que apresenta o autor e dá impressões pessoais sobre o mesmo. Com a riqueza básica de um cenário fantástico, cada escritor cria uma história totalmente independente, nos levando à experiências estranhas de enredo e desfecho. Com uma qualidade variável, mas ainda assim acima do mediano, os contos de O Livro dos Sonhos são o que gosto de chamar de uma baita ideia editorial.

Os contos são diversificados e tratam desde amor (Farsa com maré alta), até horror (Derramamento), passando por histórias dramáticas (Um pouco mais de eternidade), fábulas estranhas (Valóság e Élet e o ótimo O dia do nascimento) e, claro, narrativas sobre sonhos e o sobrenatural (destaque para A filha do escritor, O Coração da Bruxa e O restaurador de sonhos despedaçados, todos do segundo volume). Cabe dizer, como primeiro aviso aos curiosos, que os contos não carecem de nenhuma leitura de Sandman ainda que ganhem com isso. No mais, o estilo sempre perde um pouco com a tradução e os temas “sombrios” trazem uma sensação de estar num mundo estranho, com histórias amalucadas na maioria dos casos. Pra mim, o centro da graça do projeto. :)

Contar algo sobre sonhos não é fácil. Gaiman se tornou mestre nisso ao fazer de Sandman (dos quadrinhos) um personagem realmente caótico, envolvido em histórias que falam de mitologia, ocultismo, psicologia e terror. Não é um material exotérico (como algumas pessoas fazem parecer), mas exige alguma maturidade e um interesse pela sutileza do simbólico. Os contos ambientados nesse cenário seguem o padrão onírico do caos e da criatividade bruta. A maioria vale a pena.

A grande má notícia é que os livros estão fora de catálogo. Fazendo uma pesquisa aqui nos Googles da vida descobri que o Sebo Virtual Cartaxo, em Osasco, tem um exemplar em inglês da obra;  Outra fonte é o Buscapé; Pra completar o Toda Oferta também anuncia o volume um; Não é difícil achar as versões originais na Amazon, também.

É isso. Por enquanto é só, criaturas. Até a próxima jagunçagem.

P.S.: A edição de Sandman: o livro dos sonhos a que me refiro neste artigo tem os seguintes dados:

Volume 1

Editora: Conrad
Autor: NEIL GAIMAN & ED KRAMER
ISBN: 8587193279
Origem: Nacional
Ano: 2004
Edição: 3 ª
Número de páginas: 180
Acabamento: Brochura
Formato: Médio

Volume 2

ISBN: 8587193252
Origem: Nacional
Ano: 2001
Edição: 1 ª
Número de páginas: 174
Acabamento: Brochura
Formato: Médio



Categorias: Mangás e Quadrinhos
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Jagunço

Sociólogo, professor, blogueiro ocasional e amante de cinema pipoca. Acredita piamente que literatura é um troço extraordinário, uma das maiores formas de experiência humana, especialmente se você topa aprender algo com ela. Gosta de bom humor, enredos absurdos e de rir das marmotas da vida.

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