Histórias Históricas – Faroeste, Velho Oeste, Western

Escrito por: | em 04/02/2011 | Adicionar Comentário |

O interesse pela conquista do Oeste norte-americano não pode ser visto de forma alguma como adulação à história desse país, acusação feita inúmeras vezes. Pelo contrário, gostamos das histórias dos cowboys desbravadores assim como dos samurais no Japão ou dos cavaleiros medievais na Europa Ocidental. A disputa mortal entre dois homens para que prevaleça o melhor sempre fez e fará parte da cultura humana.

Como comentou o Gustavo em um post anterior, não é fácil achar boas obras literárias com essa temática no Brasil. Mas algumas delas, não tão conhecidas por aqui, merecem destaque. Começo com Meridiano de Sangue.

Há cerca de dois anos obtive uma lista do jornal britânico The Guardian que listava os 1000 melhores romances já feitos, escolhidos por votação, por um júri de pessoas da área literária. Ao analisá-la descobri que tinha de aumentar o ritmo se quisesse ler pelo menos metade dos indicados. Mas o que mais me impressionou, afora o fato de estarem inclusos três livros brasileiros na lista (Grande Sertão: Veredas; Dom Casmurro; Memórias Póstumas de Brás Cubas), é que Cormac McCarthy aparecia quatro vezes nela. Enquanto autores consagrados como Wilde e Asimov só tinham um livro, ele tinha quatro? Fiquei mais surpreso ainda quando li que só havia escrito dez romances até então.

Foi finalmente esse ano que me rendi ao tão falado Cormac e resolvi ler Meridiano de Sangue. E… é complicado descrever o que ele fez. Trata-se de uma história sobre o oeste americano na qual acompanhamos um jovem que de tão miserável não tem nem nome próprio, o kid. Crescendo em um ambiente cruel e seco assim como o livro, o kid vira mercenário e acaba indo trabalhar para um bando de homens chefiados por Glanton. Este é o velho oeste, duro, hostil e chocante como realmente foi em algumas partes, não a versão glamourizada do cinema. Glanton realmente existiu e a história do que fez é tão sinistra quanto a do livro. Tendo sido contratado para eliminar índios, acabou aterrorizando tudo o que se mexia.

O estilo e a erudição de McCarthy são peculiares fazendo com que a leitura não seja tão fácil. Por exemplo, não há travessão no início das falas, poucas vírgulas, e o vocabulário deste autor é magnífico fazendo com que o dicionário seja usado alguma vezes. Deparei-me em diversos trechos com palavras de origem médica que tenho certeza que a maioria do público não conhece. O autor fez simplesmente uma obra-prima sobre a época. História impecável e violenta, não recomendada a estômagos fracos, além de uma tradução como há muito tempo não via.

McCarthy escreve, em média, apenas dois livros por década, e seus dois últimos romances viraram filmes: Onde os Fracos Não Tem Vez e A Estrada. Ainda no tema western ele criou uma trilogia muito aclamada: Todos os Belos Cavalos, A Travessia, Cidades da Planície. – chamada a Trilogia da Fronteira. Estranhamente parece que o primeiro livro da série está esgotado e não foi republicado.

Outra obra de qualidade é a coletânea Os Melhores Contos de Faroeste, reunidos pelo inglês John E. Lewis. O livro é uma boa amostra de tudo o que já foi publicado sobre o tema, unindo os melhores autores e os mais populares. Não é o livro definitivo pois muitos desses escritores tiveram suas melhores produções em romances completos, não em contos. Mas de qualquer forma há a presença de grandes clássicos dentre os 17 contos como Um Homem Chamado Cavalo de Dorothy M. Johnson, e O Hotel Azul de Stephen Crane. Outros autores que batem ponto são Jack London, Loren D. Estleman e Mark Twain. Lewis ainda incluiu contos famosos retirados das antigas revistas baratas de faroeste (pulp) que tanto vendiam.

Por último, mas não menos importante, vem Elmore Leonard. A editora Rocco lançou vários livros seus na chamada Coleção Faroeste. O autor, que hoje é mais conhecido pela literatura policial, começou a carreira escrevendo westerns que figuram entre os melhores do gênero. Em suas credenciais estão as recomendações de Quentin Tarantino, que não só diz ser seu escritor de cabeceira, como adaptou um romance dele em Jackie Brown; e Stephen King, que o chamou de “o grande escritor americano”. Leonard tem um estilo característico e fortes diálogos, adorados por Hollywood. Diz que sua regra mais importante é: “Se parece que foi escrito, eu reescrevo.”

Não li todos, mas recomendo os que li para os interessados no tema, Hombre e Quarenta Chibatadas Menos Uma. Hombre conta a história de um homem que tem sangue branco, mexicano e índio, mas que foi criado pelos apaches. Levado para a civilização, John Russel tem que lidar com problemas de identidade, racismo e a desconfiança de seus semelhantes. A história é contada por um dos passageiros da diligência que ele toma.

Quarenta Chibatadas Menos Uma passa-se na famosa prisão de Yuma e tem como personagens principais o negro Harold Jackson e o índio Raymond San Carlos, que contrastam com os outros presos brancos. Assim sofrem maus tratos de toda parte e constantemente são colocados um contra o outro. É um religioso que tenta inverter essa situação de forma não-convencional enquanto outras coisas acontecem simultaneamente, incluindo uma fuga.

É uma pena que a maior parte dos autores do gênero não seja publicada em terras tupiniquins. Adoraria ver Jack Schaefer ou Wila Cather por aqui. Com relação a quadrinhos sempre há Tex que não necessita de apresentações, publicado desde 1971, parece ter no Brasil sua maior legião de fãs.

Game Over

A supracitada lista do The Guardian: Clique para acessar

44 livros de 1000 e contando…

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Renan MacSan

Estudante de Medicina, leitor de longa data, jogador de games e amante de HQs. Tem como livro favorito O Nome da Rosa e sonha em terminar de escrever o seu. Leitura atual: Dança dos Dragões ; e Londres - O Romance.

4 Comentários sobre Histórias Históricas – Faroeste, Velho Oeste, Western

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