Criadores de Mundos: Júlio Verne

Escrito por: | em 08/09/2011 | Adicionar Comentário |

O progresso científico do século XIX soube encontrar bons “aproveitadores”, capazes de ligar ciência e literatura de uma maneira imortal. São vários os escritores que conseguiram tal proeza, contudo, dificilmente um nome vai poder se sobrepor ao de Júlio Verne.

Júlio Verne

Mesmo que você não tenha lido nenhum livro de Júlio Verne, certamente deve se lembrar de algum filme com loucos ingressando nas entranhas da terra ou viajando em um balão de gás hélio, em volta do mundo, apenas para ganhar uma aposta. O cinema possui vários títulos inspirados nas obras do autor, o que não é por mero acaso.

Júlio Verne nasceu em 1828, na cidade francesa de Nantes. Apesar de sua formação jurídica e pouco imaginativa, ao longo da vida ele começou a direcionar o trabalho para a literatura, especificamente sob a perspectiva científica do período. Com inúmeras descobertas em um tempo tão curto é natural que os limites da literatura se ampliem para uma nova forma de vida, e, portanto, de uma nova história. É justamente neste terreno fértil que Júlio Verne se consolida como um dos primeiros mestres da ficção científica, servindo de base para grande parte para os escritores dos anos seguintes.

O otimismo científico é uma marca bem fixa nas obras mais famosas de Júlio Verne, como por exemplo, em “A Viagem ao Centro da Terra” ou em “Vinte Mil Léguas Submarinas”. É claro que este otimismo está relacionado ao rompimento de barreiras antes intransponíveis para o homem, sem contar necessariamente com as implicações da tecnologia nas relações sociais.

No mundo pós-revolução industrial surge um assombro por toda a capacidade humana de controlar a natureza, o que gerou uma preocupação literária de tentar antever as maravilhas do futuro. Para tanto são utilizadas as aventuras fantásticas, como a do professor Lidenbrock no centro da Terra. Somente nas últimas obras as histórias adquirem um tom mais sério, por vezes deprimente, que tenta alertar sobre as possibilidades danosas do desenvolvimento científico.

Por outro lado, certamente o leitor vai se surpreender com descrições exaustivas sobre o curso dos ventos, temperatura das correntes marítimas, funcionamento de motores, dentre outros tópicos que dão uma boa seriedade aos livros. Não é raro que as narrativas de Júlio Verne ganhem uma conotação real muito maior do que a ficção, deixando uma imagem precisa de que a história contada efetivamente aconteceu. Toda essa linha descritiva fornece subsídios para as aventuras do autor, que sempre estão relacionadas a aplicação prática dos novos conhecimentos.

Para quem teve a oportunidade de ouvir o podcast sobre “A Viagem ao Centro da Terra” com certeza ficou bem fixa a relação conhecimento científico X aventura. Contudo, este não é o melhor livro para se conhecer o autor e ter, efetivamente, o prazer pela história.

A obra mais famosa é “Vinte Mil Léguas Submarinas”, na qual Júlio Verne narra as aventuras do Professor Aronnax a bordo do submarino Nautilus. Trata-se de uma máquina movida exclusivamente pela eletricidade, tendo total autonomia para navegação e para a manutenção da vida humana. Algo meio difícil de se imaginar em 1870, até mesmo porque o mundo só veio a ter conhecimento de equipamentos similares durante a 1ª Guerra Mundial.

Esta antecipação do futuro é bastante frequente, e eventualmente pode deixar os leitores modernos meio entediados. Apenas para trazer um outro exemplo, em “A Ilha de Hélice” Júlio Verne descreve uma ilha artificial (com uma grande população) que tem a capacidade de se locomover pelo oceano. Como o próprio nome sugere, a ilha tem algumas hélices que permitem tal façanha. Se não estou enganado, lembro-me de ter lido em algum lugar que uns milionários americanos pretendiam fazer algo parecido…

A imaginação é a primeira coisa que salta aos olhos de quem se depara com um livro de Júlio Verne. Em alguns momentos o leitor pode achar um absurdo, contudo não poderá negar que é um absurdo explicado. Por vezes este aspecto se sobrepõe a histórias que objetivam um clímax “incrível” que realmente sustente todos os acontecimentos “chatos”, “descritivos”, “procedimentais”, etc.

É justamente este o caráter linear que a Viagem ao Centro da Terra demonstra, sem façanhas tão extraordinárias (tirando entrar no centro da Terra!) que levem o leitor moderno a continuar a leitura.

Por certo esta não é a proposta histórica de suas obras. Como já mencionado, é o assombro pela ciência que justifica a história. Assim, o foco está mais em demonstrar como se usa a ciência para fazer algo, ou delimitar até onde o homem pode chegar com ela.

Facilmente se percebe que o paradigma é diferente das ficções científicas dos séculos XX e XXI, como por exemplo “O Admirável Mundo Novo”, em que a preocupação não é colocar um homem “abobalhado” pela maravilha da ciência, mas demonstrar os riscos da lógica inflexível em todos os aspectos  da vida humana. Naturalmente é algo esperado para o mundo atual, já muito ferido para ter o mesmo brilho nos olhos por toda novidade.

São referências que obrigatoriamente devem ser considerados quando se lê alguma obra de Júlio Verne. Se o leitor não quiser ler todos os livros, até mesmo porque são muitos, recomendo uma atenção especial a “Vinte Mil Léguas Submarinas”, “Viagem ao Centro da Terra”, “A Ilha Misteriosa” e “A Volta ao Mundo em 80 dias”, que são provavelmente os mais importantes do autor.



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