“Não diga besteira. Sou um especialista da guerra, sei onde arranjar os melhores homens e as melhores armas e como embarcá-los. Essas informações lhe custariam o dobro se tentasse obtê-las pessoalmente… o que de qualquer maneira lhe seria impossível, pois lhe faltam os contatos.”
Dentro do tradicional estilo de Frederick Forsyth não é possível fugir da espionagem regada com sangue. Cães de Guerra segue esta linha de enredo, mas se distancia de certa maneira dos demais livros ao colocar mercenários no jogo de informações. Aqui o serviço é mais grosseiro, no entanto muito lucrativo, por isso o melhor é colocar homens cuja honra tenha um preço.
Estes homens são apresentados logo no início da história, na ocasião fugindo de algum país africano cuja guerra já estava perdida. São dadas algumas descrições dos integrantes do grupo de maneira excessivamente objetiva, abrangendo principalmente o passado dos mercenários e algumas características físicas. O destaque aqui vai para Cat Shannon, líder do grupo e controlador de toda a trama que seguirá.
Talvez a descrição desta parte seja um ponto negativo, que pode levar a crer que o livro não seja sólido e o enredo tenha sido construído por pessoas sem personalidade ou rosto. Todavia, ao longo da história este aspecto fica um pouco de lado já que dentro de um mercenário o que seria mais importante é o sangue que ele pode tirar. E isto é bem claro no livro.
A trama começa especificamente com a descoberta de uma montanha de platina no interior da fictícia República de Zangaro, na África. Este país vive um caos político, no qual o ditador Jean Kimba imprime suas marcas de violência e total opressão do povo. E como sempre pode piorar, o regime comunista local tem uma simpatia um tanto exagerada pela União Soviética. Para além da extrema pobreza e dos problemas políticos, portanto, sobra apenas a platina na Montanha de Cristal.
É aqui que vem o interesse, mas também um problema. A empresa que descobre o minério é inglesa, a Manson Consolidated Mining Company Limited, de maneira que em campo aberto ela teria um grande inconveniente com a influência russa em Zangaro. Provavelmente Jean Kimba daria os direitos de extração do minério aos comunistas. E ainda que não fosse assim, o regime de Kimba é muito instável para permitir o trabalho de forma confiável.
Então vem a grande sacada, que aliás nem é nova, já que os EUA e a Inglaterra já fizeram várias vezes no mundo todo. É só tirar Kimba que as relações com os russos fica cortada, proporcionando um campo para um trabalho fácil e muito lucrativo.
O diretor da companhia, Sir James Manson, decide enrolar os acionistas através de várias manobras financeiras para conseguir explorar o minério sem ter que dividir os lucros. O objetivo é retirar Kimba do poder e colocar um fantoche para governar, o que geraria segurança para a exploração.
Para tanto, Manson contrata o mercenário Cat Shannon e o incumbe de elaborar um plano breve para a queda do ditador. Não são passadas informações sobre a Montanha de Cristal e os objetivos de Manson, tampouco sobre quem pagaria Shannon. Ele é contratado apenas para matar e não para fazer perguntas.
Esta parte do livro, o que corresponde a praticamente 80 % da trama, é baseada em procedimentos de planejamento da invasão e compra de armas. Temos alguns incidentes que respondem algumas das questões sobre o objetivo do contrato, mas os pontos importantes são as atividades ilegais (embora algumas vezes sejam legais) de Shannon e seus mercenários para que Jean Kimba saia de Zangaro.
É acima de tudo um livro de procedimentos. A invasão de Zangaro representa umas poucas páginas no final. No entanto, este fator não deixa o livro chato,até porque não podemos comprar armas em um wall mart da esquina. O que não vale, evidentemente, para alguns moradores do Rio de Janeiro e São Paulo.
Assim, temos a compra do armamento, o transporte entre os países, as transferências ilegais de dinheiro e as incontáveis extorsões… tudo isto garante um bom suspense. E o final, um tanto inusitado, compensa ainda mais a leitura.
Tags: Cães de Guerra, Frederick Forsyth, mercenários, suspense, zangaro
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