Ao invés das costumeiras Notícias Subterrâneas, hoje venho falar sobre um livro que comentei, pasmem,em meu primeiro post. Isso mesmo, meses atrás comecei as Notícias Subterrâneas falando de Heirs of the Blade, último livro da série Shadows of the Apt, e coloquei na lista um pequeno tapa-buraco chamado Down These Strange Streets, uma coletânea de contos editada por George R. R. Martin e Gardner Dozois. Bom, a editora Leya, em sua política de afogar-nos em livros do Martin lançará Ruas Estranhas no Brasil. Não li nada do livro após seu lançamento, não conheço sua qualidade, não estou parabenizando ou criticando a Leya pela iniciativa. Estou feliz pelo lançamento de um livro que já considerei Subterrâneo no mercado nacional, embora tenha dúvidas quanto a até que ponto a escolha de lançá-lo seja justificada por sua qualidade. Novamente, não sei o quão bom o livro é, embora grandes autores estejam envolvidos. Minha razão de estar aqui é comparar a capa brasileira à original:
Minhas dúvidas (e gostaria de saber a opinião de cada um de vocês) são sobre a posição dos nomes dos autores na capa.
Muitos devem saber que sou adepto da teoria de que livros são sim vendidos pela capa. Independente do quão imparciais ou críticos nos consideremos, sempre julgaremos a capa primeiro. E é a primeira opinião que conta.
A capa original de Down These Strange Streets me desagradou profundamente desde o início pela quantidade de informação exprimida em blocos desagradavelmente grandes. A capa brasileira, em oposição, centraliza a informação com muito menos poluição visual e uma ilustração muito mais agradável. Mas qual a informação apresentada?
Eis a grande questão. Na edição brasileira o nome de Martin é colocado na mesma posição que ocupa n’As Crônicas de Gelo e Fogo, série de sua autoria. Pensando na aparência deste livro em minha estante sinto que deveria estar feliz por seguir o estilo gráfico das capas de seus outros livros. Talvez seja esse mesmo “seus” que me preocupa. Por que colocar o nome de Martin com tamanho destaque sendo que ele não é o autor?
Na edição americana, o nome de Martin está esmagado sob a poluição visual, em um tamanho humilde ao lado do nome de Gardner Dozois. Por que então, na brasileira, Dozois está exilado em um “PS” logo abaixo do nome colossal de Martin? E quanto a todos os outros autores que de fato escreveram para o livro? Por que em uma antologia o nome de um dos coeditores é muito maior e destacado até que o nome da própria coletânea?
Sim, entendo que assim o livro venda melhor. Com tantos leitores sedentos de mais histórias descerebradamente violentas e secas do autor d’A Guerra dos Tronos pelo Brasil afora, não tenho dúvidas de que será um sucesso considerável. Exatamente aqui chegamos ao outro lado da questão, não o do autor, mas do leitor. Quantos comprarão o livro pensando que Martin tem de fato algum envolvimento criativo com a obra? Entendo que mudem os autores da capa devido ao sucesso que alguns fazem ou não no Brasil (Conn Iggulden está em uma posição de destaque, por exemplo), mas isto?
Até que ponto as editoras são livres ao traduzirem o livro? Até que ponto outras partes (os detentores dos direitos do livro) não analisaram as mudanças e foram coniventes com isso? Quantos foram coniventes? Não há quem analise a capa da tradução para criticá-la? Não há alguma preocupação dos agentes dos autores quanto a isso? Nenhum agente sente que seu cliente foi prejudicado ao ser jogado para segundo plano dessa forma?
Ao menos Glen Cook está entre os autores da capa brasileira, talvez haja alguma chance de mais um de meus clássicos favoritos de fantasia sombria ser lançado por aqui no futuro. Só espero que Chronicles of the Black Company não venha com o nome MARTIN estampado em letras brancas garrafais no meio da capa.
Perdão, George, sei que a culpa não é sua, estou inclusive lendo mais um livro seu agora, mas isso é difícil de engolir.
Gostaria de saber a opinião de cada um de vocês sobre a influência da capa na escolha de um livro e como uma informação levemente distorcida, como acredito que aconteceu neste caso, pode prejudicar uma experiência. Citem outros casos em que uma informação de capa foi drasticamente modificada ou que foram levados a ler algo completamente diferente daquilo que a capa passou. E sim, concordo que a arte da capa brasileira de Ruas Estranhas é muito melhor.
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