Quando a violência é o melhor recurso?
O filme “6 dias” da Netflix, dirigido por Toa Fraser, é inspirado majoritariamente pela história real da invasão à embaixada do Irã em Londres por terroristas em abril de 1980. Todo o filme é pautado por pontos de vista que nos permitem contemplar a perspectiva da mídia (BBC), dos negociadores da polícia londrina, do time tático SAS (Serviço Aéreo Especial) e dos próprios terroristas.
Precisamos ter consciência de que os homens que invadiram a embaixada e tomaram os reféns são terroristas, porém de uma “modalidade” diferente que precedeu a atual onda de ataques suicidas. Pelas décadas de 70 e 80 era mais comum que houvesse um sequestro de um local (como o caso do filme), ou de um avião (como tantos filmes da época retrataram), do que uma explosão insperada em um local público com um aviso de “nós fomos os culpados” no dia seguinte. As demandas eram muito mais políticas e pontuais.
Portanto, durante o filme (que é relativamente curto, com 1h34 de duração), vemos o negociador chefe da polícia tentando fazer com que os homens armados libertem os reféns em troca de suas demandas (que vão desde a conversa com diplomatas à ter suas demandas lidas na televisão). Ao mesmo tempo, é possível ver as discussões entre os próprios terroristas sobre matar ou não os reféns, e até mesmo questões que nos fazem entender que dentro do próprio grupo existem vertentes mais radicais e outras inclinadas à negociação.
Talvez o mais interessante de “6 dias” seja o grande jogo de xadrez político que existia sobre toda a situação. Permitir que terroristas consigam o que querem por meio de negociações “pós ataque” poderia servir de incentivo para que mais grupos abusassem da Grã-Bretanha para seus atos, ao mesmo tempo, uma ação que gerasse uma carnificina completa seria extremamente impopular para o governo de Margaret thatcher (a primeira ministra). Portanto, o governo imaginava desde o início, uma operação que não apenas pudesse salvar os reféns, como também assustar os “próximos” que pudessem pensar em realizar um ato de terrorismo contra a Inglaterra.
Neste momento entra o SAS
Com certeza a minha parte favorita do filme, o núcleo do Serviço Aéreo Especial nos coloca dentro dos treinamentos e da preparação da equipe. Acompanhamos desde o início as descobertas de rotas, quantidade de inimigos, mapas, portas, entradas, e oportunidades para a realização de um ataque eficiente. Essa parte pode agradar muito a todos que acostumaram a ver filmes e jogos que envolvem esquadrões de elite (sim, estou falando com você, jogador de Rainbow Six). Ao decorrer da história, o time cria réplicas da embaixada, planeja novas formas de vencer a situação, e se frustra com as constantes mudanças de planos do governo.
Falando propriamente da obra, acredito que o filme tenta falar por ângulos demais em muito pouco tempo. Repararam que não falei das partes em que temos o ponto de vista da repórter da BBC? Não é por nada, esse núcleo beira o desnecessário, não muda em nada os acontecimentos, não envolve nenhum dos seus personagens na resolução dos acontecimentos e não conta uma perspectiva que realmente interesse.
Você pode estar pensando “Ah, o Vinícius quer um filme todo sobre a invasão do SAS”. Olha, não é de todo errado pensar nisso. Mas, a história nestes momentos é melhor contada e consegue criar mais o suspense que o filme se propõe a sustentar.
É um bom registro histórico, que se divide por toda sua extensão na disputa Violência x Diplomacia. E é muito legal poder fazer a população civil ter a consciência de que o Estado deve saber equilibrar o uso de suas negociações com o do poder para a proteção da integridade nacional.
Recomendo o filme a todos os entusiastas das “obras baseadas em fatos reais”. Objetivo e focado, “6 dias” te jogará em conflitos psicológicos e físicos que te farão questionar a validade de seus atos e suas crenças sobre a atuação governamental que julgamos ser correta.
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