“É muito simples dizer que o lobo transforma carne e sangue. O lobo transforma vidas”
Você deve conhecer a lenda do lobisomem.
Uma pessoa que é ferida por uma dessas criaturas e sobrevive, ou que é amaldiçoada (em algumas lendas especificamente por ciganos), durante o ciclo da lua cheia se transformará em um híbrido de homem e lobo. Irá atacar, caçar e matar a todos que estão ao seu redor, sem controle, sem piedade e sem remorso.
Até o fim da noite de lua cheia.
O quadrinho “Lua do Lobo” roteirizado por Cullen Bunn, desenhado por Jeremy Haun e publicado pelo selo Vertigo, mantem a lenda de uma forma muito próxima ao que conhecemos das lendas clássicas. O lobisomem só pode morrer se atingido por prata, a transformação é lenta e dolorosa durante apenas noites de lua cheia, e (segundo algumas lendas em particular) o lobisomem tem uma predileção particular por caçar as pessoas que mais ama.
Porém, nessa história existe uma diferença em particular, você não se torna um lobisomem porque foi ferido por outro e sobreviveu, você se transforma porque o espírito do Lobo te escolheu. Um lobisomem, uma pessoa, um ciclo da lua. E quando isso passar, você será abandonado para ter de lidar com as memórias das atrocidades que cometeu e as pessoas amadas que perdeu.
Portanto, nessa história existe apenas um lobisomem por vez. E isso torna tudo muito mais difícil.
A trama se passa pelo ponto de vista de Dillon Chase, uma pessoa que passou pela transformação do espírito do Lobo, perdeu a família para a fúria da criatura e agora tem como objetivo fazer com que a criatura morra de uma vez.
Acho que o mais impactante dessa história é o fato de que podemos ver a vida das pessoas que foram o lobisomem alguma vez. Loucos, atormentados, depressivos, fanáticos, violentos, as vitimas do Lobo não são apenas os que morrem, mas também os que matam sem poder controlar a própria vontade. Alguns, como Dillon, procuram por vingança, alguma noção de justiça contra a criatura que fez seus entes queridos morrerem, a maioria vive em reclusão, levando uma “meia vida” tentando esquecer o trauma, porém, existem aqueles que gostaram do poder e buscam tê-lo mais uma vez dentro de si.
No primeiro volume (que é um compilado das edições 1 a 6) temos as nossas primeiras impressões da caçada de Dillon, que se estende por todos os Estados Unidos, e suas dificuldades. Afinal, como caçar um espírito que só se manifesta na lua cheia e pode estar em qualquer pessoa?
Somos cruelmente colocados também em imagens da destruição que o Lobo causa em seus ataques. Ou seja, o quadrinho não poupa sangue e violência dentro de sua narrativa. Mas ainda acho que a maior agressão que a história transmite é o trauma. Ela realmente nos faz pensar “e se fosse comigo?”. Como viver em uma situação em que não houve monstro a enfrentar, pois ele era você?
Alguns dos caçadores que buscam pela criatura, estão tão obcecados em seus objetivos, que já não se importam mais com os danos colaterais e as pessoas que morrerão em seus caminhos, já Dillon não consegue deixar de confortar e apoiar aqueles tomados pelo Lobo. Reparem que toda a história é em parte uma metáfora para todos os problemas e desafios que carregamos em nossas vidas. Alguns os rejeitam, outros se viciam, outros apenas os vivem. Mas todos passamos por eles, e vivemos com seus resultados em nossas vidas.
Recomendo a história para todos os fãs das lendas clássicas de lobisomens e para aqueles que gostam de histórias com o foco em personagens. “Lua do lobo” vai te fazer pensar como um monstro na tentativa de caça-lo, a não ser que você já o seja.
E não importa o que acontecer, sempre fiquem atentos à lua cheia.
Tags: Lobisomem, Lua do Lobo, Parlamento das Corujas, Quadrinhos, Vertigo